Na terra de Pedro Nuno Santos, “o de Espinho” levou a melhor sobre “o menino da mamã” – Observador

As desconfianças em relação a Pedro Nuno Santos parecem dissipar-se entre os locais quando na conversa surge o nome do pai. Américo Santos é um dos empresários de maior sucesso na região. Fundou a Tecmacal, uma empresa que se diz líder no mercado de máquinas para calçado, e onde o filho teve uma quota de 0,5%. “O pai dele é um homem espetacular. Começou do zero, trabalhou sempre, hoje é dos maiores industriais de São João da Madeira. Tem várias empresas mas com muito mérito. Trabalhava para outros, era mecânico de máquinas, comprava máquinas usadas avariadas, punha-as quase novas e vendia em segunda mão a ganhar algum dinheiro. Foi assim que ele começou. É o maior industrial de máquinas para a indústria do calçado”, conta Augusto Silva. “Admira-me o Pedro Nuno não ter essa raça”, completa.

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São João da Madeira não é só o concelho mais pequeno do país. É também um dos mais ricos. O mais recente estudo sobre o Poder de Compra Concelhio do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicado em 2021 e relativo a 2023, revela um poder de compra acima da média, apenas superado apenas por Lisboa, Oeiras, Porto, Cascais, Alcochete e Matosinhos. Segundo o mesmo estudo, o concelho chegou a ser o quarto mais rico do país. A estatística é um orgulho para os sanjoaneneses. “Aqui só não trabalha quem não quiser”, diz Augusto Silva, não fosse “Labor – Cidade do Trabalho” o lema do concelho. Mas “já foi melhor”, ouve-se repetidamente nos cafés sanjoanenses.

As rendas difíceis de comportar já chegaram à cidade. “Não temos onde as pessoas possam viver, é muita população para um espaço tão pequeno”, lamenta Armando Lima. “600 euros por um T1!”, reclama-se à mesa da pastelaria Pão Flor. A desconfiança com a imigração também fazem parte do discurso. “É inadmissível viverem 15 ou 20 pessoas num apartamento. E aqui acontece isso, na capital do trabalho. Os imigrantes que vêm para trabalhar têm todo o direito a cá estar, nós também temos o direito de emigrar e gostamos de ser bem recebidos noutros países. Mas está muita coisa fora de controlo, viverem 20 pessoas numa casa a inflacionar as rendas, e depois os portugueses não conseguem pagar e acompanhar esse ritmo. Um casal não consegue constituir família”.

A subida do Chega na votação em São João da Madeira não foi, por isso, recebida com surpresa. “Nestes 50 anos vivemos entre laranjinhas e rosas. Eu pergunto, o que é que temos a perder se isto mudar? Isto já está tudo perdido”, reclama Miguel Pinheiro, que depositou o voto no partido de André Ventura. “Já votei no Bloco de Esquerda. Quando fez a geringonça com o PS para mim mudou logo. O Ventura, se faz coligação com o PSD, também não quero saber mais. Temos de ir pelas pessoas. Tivemos pessoas a falar bem, como o Sá Carneiro, o Cunhal… não havia melhor que o Cunhal. O de Espinho é outro Pedro Nuno Santos”, remata, numa referência a Luís Montenegro.

“Eu há 15 dias apostei com o meu fornecedor de café que o Chega ia ter 60 deputados. Ele disse: ‘é capaz de ser muito’. Amanhã já lhe digo”. Ricardo Barbosa é o dono do café Progresso, onde nesta segunda-feira pós eleitoral, as conversas na esplanada vão alternando entre a política e o futebol. “O Benfica está como o Governo, está sem força. Para o ano apoio o Alverca”, atira Miguel Pinheiro. A alguns metros da esplanada, a casa do Benfica de São João da Madeira ainda exibe a faixa de “campeão 38”. Já a sede do PS, no segundo andar de um centro comercial deserto, não passa de um vestígio. Na loja 304, ainda sobram alguns autocolantes do punho erguido, mas a folha A4 na montra não deixa dúvidas: “aluga-se”.

Author: Tudonoar

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