
O que é que Francisco Louçã quer dizer quando diz que o capitalismo “really said” que é preciso “slay” pelo salário mínimo ou em alternativa morrer, “bestie”? Ou quando explica que acreditar na mão invisível do mercado é estar “delulu”? Então e quando assegura que, se encontrasse uma “baddie” revolucionária, a sua resposta automática seria “raw, next question?”. É provável que quem tiver mais de 40 anos, talvez de 30, não perceba bem o que é que o fundador bloquista está a querer dizer (explicamos a seguir), neste vídeo gravado para o Tik Tok e o Instagram que se tornou viral. Mas também não é esse o alvo etário que Louçã pretende atingir aqui.
O vídeo em causa foi publicado nas redes sociais da juventude do Bloco e termina com a voz de alguém a perguntar a Louçã se acha que o formato, em que o bloquista lê estas frases e piadas familiares para a geração Z, vai funcionar. “Duvido muito”, responde, cético, o fundador bloquista. Mas funcionou: chegou às 291 mil visualizações numa conta que costuma ficar por poucos milhares, por vezes centenas, e a um milhão de visualizações no Instagram. Há comentários que contam que o vídeo funcionou como uma espécie de momento pedagógico e intergeracional: “Eu expliquei à minha filha o que era o late stage capitalism e ela explicou-me o que é uma “baddie revolucionária”.
É um dos exemplos mais virais, mas está longe ser caso único: há muitos outros vídeos que seguem as mesmas premissas — linguagem (muito) jovem, modas da geração Z, diálogos com influencers conhecidos — para chegar ao máximo de eleitorado possível. Antes disto, Joana Mortágua já tinha aparecido, qual influencer, a cozinhar uma omelete enquanto tecia críticas à NATO; esta Páscoa gravou-se com um folar ao lado para falar do preço dos ovos. A linguagem do Bloco nas redes vem sendo cada vez mais adaptada às novas tendências, de forma a não deixar escapar novo eleitorado que se informa dependendo de um algoritmo que tende a favorecer a extrema-direita, e no qual o Chega se mexe bem; agora, também se aplica aos fundadores, que se reapresentam ao eleitorado (e a uma geração que pode nem se lembrar deles no ativo).
“Deixei de ter a mesma visibilidade pública quando deixei de ser deputado”, em 2013, lembra Francisco Louçã ao Observador. E, se é verdade que durante muito tempo manteve aparições públicas frequentes e uma presença constante na televisão (no seu comentário semanal na SIC Notícias), também é verdade que “as gerações muito mais novas, entre os 15 e os 25 anos, não veem televisão nem leem jornais — informam-se pelo Tik Tok. É natural que não me conheçam”, embora ainda haja muitos jovens que o identificam e abordam em campanha.
Daí que haja um vídeo, no Instagram do Bloco de Braga, em que o fundador até se apresenta: “Olá, chamo-me Francisco Louçã”, diz, antes de passar a falar sobre os perigos do “neofascismo” crescente. Noutro, aparece a ver um vídeo do conhecido influencer Kiko is hot (171 mil seguidores no Instagram, 393 mil no Tik Tok), em que este diz que a moda do chocolate do Dubai é um sintoma do tal capitalismo tardio, e Louçã concorda — “É isso mesmo, Kiko!” — antes de o desafiar para uma conversa mais prolongada sobre o assunto (“Oh my God, vamos falar de tudo!!”, respondeu o influencer). Numa conversa com Luís Miguel, criador de conteúdos, Louçã pede que este o trate por “tu”, porque “respeito é sermos iguais” — “periodt, queen, slay!”, responde este (qualquer coisa como “é isso mesmo, rainha, arrasa!”).