No primeiro dia do seu mandato, o Presidente da República, Daniel Chapo, participou de um culto inter-religioso com o lema “Arrependimento, Perdão e Reconciliação: Orar por Moçambique”, realizado no Centro Cultural Moçambique-China, em Maputo.
O evento, que deveria simbolizar um esforço de união nacional após eleições marcadas por tensões, foi marcado por um incidente controverso envolvendo o pastor Marcos Chambule.
Durante a cerimónia, o pastor Marcos Chambule, conhecido por apoiar a causa de Venâncio Mondlane, fez declarações que abalaram o ambiente de reconciliação. “Devolvam os votos que roubaram”, afirmou, acrescentando que “arrependimento inclui devolver o que você roubou”. Suas palavras, dirigidas aos recém-empossados Presidente da República, provocaram uma reacção imediata. Sob ordens das forças de segurança, Chambule foi retirado à força da sala e conduzido à 3ª Esquadra de Polícia, onde permaneceu detido por algumas horas.
Advogados da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) intervieram rapidamente, garantindo a sua libertação. O episódio tem gerado críticas nas redes sociais ao novo chefe de Governo, especialmente porque ocorreu na presença dele, que não se manifestou ou impediu a acção das forças de segurança. O silêncio do Presidente é interpretado por alguns como um reflexo da falta de tolerância às críticas num momento que deveria simbolizar reconciliação e diálogo.
A cerimónia, idealizada pelo bispo da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e outros líderes religiosos, reuniu diversas figuras políticas e religiosas para promover a união nacional. No entanto, o incidente ofuscou o propósito inicial do evento, levantando questionamentos sobre a autenticidade do apelo à reconciliação.
Apesar do discurso de paz, a realidade fora do evento é marcada por contestação popular e violência. Desde o início dos protestos, em 21 de Outubro, após as eleições gerais de 9 de Outubro, mais de 300 pessoas morreram pela brutalidade policial, e mais de 600 foram feridas, segundo a sociedade civil.
O contexto eleitoral que levou Chapo ao poder é alvo de acusações de fraude. A oposição rejeita os resultados que deram ao Presidente 65,17% dos votos, e a sua posse foi caracterizada por uma ausência significativa de líderes internacionais, reflectindo o isolamento diplomático do País.
Este incidente expõe as tensões que persistem na sociedade moçambicana e o questionamento se o novo governo de Daniel Chapo conseguirá promover uma reconciliação genuína ou se as acções do primeiro dia de mandato são um prenúncio de um período de maior repressão e mais questionamento da sua legitimidade.
Contudo, Venâncio Mondlane anunciou na sua live de Quarta-feira, logo após Daniel Chapo tomar posse, que nesta Sexta-feira (17 de Janeiro) irá anunciar os passos para os seus 100 dias de Governação, pois este se autoproclamou presidente eleito pelo povo. (Bendito Nascimento)