Depois da noitada, Kikas reabriu o bar e a ressaca deixou o dragão a ver Estrelas (a crónica do Estrela da Amadora-FC Porto)

E tudo uma noitada mudou. Depois do triunfo do FC Porto na receção ao Famalicão (2-0), que culminou na segunda série com vitórias consecutivas da era Martín Anselmi, o plantel aproveitou a época pascal para gozar de dois dias de folga durante o fim de semana. A história não se ficou por aí e deu aso ao tema mais badalado desta semana desportiva. Na noite de domingo, véspera de completar o seu 23.º aniversário, Otávio Ataíde recorreu a um bar da cidade Invicta para comemorar com familiares, amigos e colegas de equipa. Contudo, a noite não terminou nessa altura e estendeu-se pela madrugada, com alguns jogadores a serem “descobertos” e confrontados pela claque Super Dragões, o que motivou a abertura de processos disciplinares, o pagamento de multas e treinos em solitário.

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Dado o incumprimento do regulamento interno do clube, os jogadores acabaram punidos pela direção liderada por André Villas-Boas. Os nomes mais visados foram o do próprio Otávio e do companheiro de posição Tiago Djaló, que já terão estado envolvidos noutros episódios de incumprimento no passado. O central brasileiro foi castigado com sessões bidiárias de treino e afastado da convocatória para a deslocação à Amadora, ao passo que o português se encontra a trabalhar à margem do grupo. Para além do duo, Danny Namaso, William Gomes e Samu Aghehowa foram alvo de processos disciplinares e Nehuén Pérez e Martim Fernandes tiveram de pagar uma multa. Ainda assim, estes cinco mantiveram-se na convocatória de Anselmi.

Ficha de jogo


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Estrela da Amadora-FC Porto, 2-0

31.ª jornada da Liga Portugal

Estádio José Gomes, na Amadora

Árbitro: David Silva (AF Porto)

Estrela da Amadora: João Costa; Diogo Travassos, Renato Pantalon, Issiar Dramé, Guilherme Montoia; Amine Oudrhiri, Leonel Bucca (Chico Banza, 68’), Paulo Moreira (Léo Cordeiro, 80’); Jovane Cabral (Gerson Sousa, 90+1’), Kikas (Rodrigo Pinho, 80’) e Alan Ruiz (Ferro, 80’)

Suplentes não utilizados: Francisco Meixedo; Rúben Lima, Alex Sola e Tiago Ferreira

Treinador: José Faria

FC Porto: Cláudio Ramos; Zé Pedro, Stephen Eustáquio (William Gomes, 66’), Iván Marcano; João Mário, Fábio Vieira, Alan Varela (André Franco, 87’), Francisco Moura (Martim Fernandes, 66’); Pepê (Danny Namaso, 77’), Deniz Gül (Samu Aghehowa, 46’) e Rodrigo Mora

Suplentes não utilizados: Samuel Portugal; Zaidu Sanusi, Nehuén Pérez e Tomas Pérez

Treinador: Martín Anselmi

Golos: Kikas (38’) e Ruiz (g.p., 62’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fábio Vieira (34’), Varela (53’), Dramé (55’), Cláudio Ramos (59’), Ruiz (66’), Jovane (68’), Montoia (90’) e Amine (90+7’)

“Estamos perante uma nova geração de seres humanos. Com a velocidade que se vive atualmente, acho que se pensa pouco. Não é algo relacionado com a minha profissão e até é algo que me leva a pensar como pai. Fui educado de uma forma e não faço tudo igual como os meus filhos. Os tempos mudam. Antes os valores eram firmes e estavam enraizados. Tento passar esses valores aos meus filhos, mas entendo que no mundo atual a velocidade é outra. Eu tinha de esperar até às 17 horas para ver o meu programa de televisão favorito. Hoje mudam de vídeo com os dedos. Não têm de esperar. As coisas custam e temos de recuperar esses valores. Os jogadores não são meus filhos, mas podiam ser. Tenho o dobro da idade deles. Cada ação que temos na vida traz consequências. Sei onde estou e é determinante saber isso. O privilégio que é defender estas cores traz também muitas responsabilidades”, abordou o técnico argentino na conferência de imprensa de antevisão ao encontro.

“É uma equipa que também está a jogar muito, com pouca margem e num momento com menos pontos por disputar. A pressão empurra-te para procurares vencer. É um campo complicado e uma equipa forte a jogar em casa. Para nós não muda nada: temos de manter a nossa essência. Temos quatro finais para cumprir e chegar aos nossos objetivos. A ausência do Diogo [Costa] é sensível. É o nosso capitão e guarda-redes, mas confio no Cláudio [Ramos]. Não quero que isto seja uma desculpa. A equipa treinou bem, está preparada, está com vontade, o plano está traçado e vai ser executado. Todo este ruído é de vocês [imprensa]. Cá dentro sabemos que temos de fazer um mea culpa e sabemos o que fazer. O resto é ruído”, acrescentou sobre o jogo deste sábado.

Assim, a lesão de Diogo Costa “obrigou” Cláudio Ramos a ocupar a baliza dos dragões e estrear-se nesta edição da Primeira Liga, com Martín Anselmi a manter no onze inicial os restantes dez jogadores de campo, optando por deixar os “castigados” no banco e confirmando as ausências de Djaló e Otávio. No Estrela da Amadora, Ferro e Léo Cordeiro saíram da equipa inicial, com Leonel Bucca e Paulo Moreira a surgirem no lote de opções de José Faria. Com o apito inicial do árbitro David Silva, confirmou-se a alteração tática nos tricolores, que desfizeram a linha defensiva com cinco elementos e apostaram em três avançados. A mudança mostrava a intenção de Faria em tentar surpreender o FC Porto e, na primeira ocasião de perigo, Kikas apareceu isolado, mas Ramos saiu rapidamente da baliza e impediu o golo (5′).

O Estrela da Amadora continuou a pressionar os dragões e aproveitar o mau entendimento da linha defensiva e, no lance seguinte, o avançado português voltou a isolar-se, picou a bola por cima do guarda-redes portista, mas Iván Marcano chegou a tempo de fazer o corte e impediu que a bola entrasse (7′). Logo a seguir, Issiar Dramé entregou em Bucca dentro da área e o médio desferiu um remate de primeira que embateu na trave e saiu por cima (8′). Essa ocasião de golo teve o condão de revitalizar o FC Porto que, a partir daí, conseguiu estabilizar, ter mais bola e chegar à baliza de João Costa. No primeiro lance de perigo, Zé Pedro recebeu longe da área, não se fez rogado e desferiu um remate forte que passou perto da barra (14′). Seguiu-se um longo período de estudo, com os azuis e brancos a tentarem o espaço interior, com a equipa da casa a continuar a travar as ofensivas.

Só na reta final do primeiro tempo é que a bola voltou a circular perto das balizas, com Deniz Gül a receber a bola à entrada da a área e a desferir um remate rasteiro e colocado que obrigou Costa a esticar-se para impedir o golo (33′). Na resposta, um livre praticamente inofensivo voltou a surpreender a defesa do FC Porto, com um desvio ao segundo poste a criar o pânico em Zé Pedro que, depois de se fazer à bola, falhou-a, iludiu Cláudio Ramos e quase deu origem a um desvio certeiro de Kikas (35′). Contudo, o dorsal 98 deixou mesmo o seu carimbo no encontro logo a seguir, ao surgir isolado depois de um desvio de cabeça de Bucca e, em velocidade, a rematar colocado para o 1-0 (38′). Até ao intervalo, Kikas teve mais uma chance de marcar, mas não conseguiu acertar na bola perante um cruzamento rasteiro de Paulo Moreira (42′). Assim, o Estrela da Amadora chegou ao intervalo na frente (1-0).

Para a etapa complementar, Martín Anselmi lançou Samu no lugar de Gül e a equipa apresentou claras melhorias, mostrando-se mais forte nos duelos e com maior chegada à área. Depois de um período mais quezilento, com muitas faltas e vários cartões amarelos, um lance aparentemente inofensivo resultou numa oportunidade de Bucca, que surgiu isolado e tentou marcar, mas acabou rasteirado por Cláudio Ramos. Depois de consultar as imagens do lance, o árbitro David Silva assinalou a grande penalidade e, na cobrança do castigo máximo, Alan Ruiz atirou forte e colocado para o 2-0, enganando o português (62′). Já com Martim e William também em campo, Rodrigo Mora apareceu na partida e, depois de receber de João Mário, desferiu um remate rasteiro à entrada da área, que obrigou João Costa a mais uma defesa difícil (73′). Na resposta, Kikas conduziu um contra-ataque rápido e, de muito longe, tentou um golo de bandeira, mas Ramos voou e defendeu para canto (76′).

Para a reta final da partida, Anselmi lançou Namaso, mas a equipa continuou a criar apenas de fora da área, com um remate de Alan Varela a esbarrar nas luvas de Costa (78′). Em sentido inverso, José Faria reforçou a defesa com as entradas de Ferro, Léo Cordeiro e Rodrigo Pinho, que se juntaram a Chico Banza, que também já tinha saído do banco, mas o Estrela da Amadora continuou bem mais perto do golo. Depois de uma arrancada de Banza pela direita, Marcano falhou o corte e a bola sobrou para Jovane Cabral que, dentro da área, desferiu um remate cruzado ao poste direito da baliza portista (87′). Essa acabou por ser a derradeira oportunidade de uma noite que deixou o FC Porto mais longe do terceiro lugar e o Estrela da Amadora cada vez mais perto da manutenção na Primeira Liga (2-0).

Author: Tudonoar

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