
Se é uma daquelas pessoas que está sempre a dizer aos seus amigos de longa data “a ver se a malta depois combina alguma coisa” e raramente ou nunca o concretiza, talvez o ponto de partida de As 4 Estações (Four Seasons no original), a série de comédia que recentemente se estreou na Netflix, lhe pareça rebuscado. Por outro lado, se costuma dar por si em supermercados de província a comprar esparguete, polpa de tomate e vinho para um batalhão, encontrará aqui muito para reconhecer. As quatro estações aludidas no título referem-se às quatro férias anuais que três casais suburbanos na casa dos 50 anos, amigos desde a faculdade, passam juntos.
As 4 Estações, atualmente a série mais vista da plataforma em Portugal (segundo a própria, naturalmente), é baseada num filme de 1981 com o mesmo nome, escrito, realizado e protagonizado por Alan Alda (conhecido sobretudo por MASH). A versão recauchutada para 2025 reúne um elenco de luxo (já lá vamos) e uma equipa de guionistas e showrunners que não lhe fica atrás. Creditadas como criadoras (além de Alda) constam personalidades como Tina Fey (30 Rock), Lang Fisher (Never Have I Ever) e Tracey Wigfield (Girls 5Eva), todas elas especialistas num tipo de série que marcou o início dos anos 2000, mas que se parece ter quase perdido: comédias enxutas e eficazes, em episódios de apenas trinta minutos, com boa construção de personagens e que, tendo coração, nunca se esquecem de ter graça. Uma comédia que é uma comédia, mesmo na face desgraça, em vez das chamadas “comédias dramáticas” tão em voga.
[o trailer de “Quatro Estações”:]
A New York Magazine descreve a série decretando: “Provavelmente não é a tua cena. A não ser que estejas na meia-idade, e aí é totalmente a tua cena”. E foi com isto que, aos 43 anos, percebi que estou a tentar parar o vento com as mãos e que estou, definitivamente, na meia-idade, já que As 4 Estações me caiu exatamente no goto, causando-me muitas vezes o riso pelo reconhecimento. Os três casais são compostos pela controladora Kate (Tina Fey) e pelo imaturo Jack (Will Forte, figura mítica de SNL); pela adormecida Anne (Kerri Kenney, de Renno 911) e pelo insatisfeito Nick (Steve Carell, The Office); e pelo franco Danny (Colman Domingo, de Fear Of The Walking Dead, mostrando ser um inesperado ótimo ator de comédia) e pelo emotivo Claude (o italiano Marco Calvani, de Borgia).
A dinâmica entre todos leva um abalo quando Nick, no rescaldo do seu 25.º aniversário de casamento, comunica a Anne que a vai deixar – e depressa inicia um relacionamento com Ginny, uma mulher 20 anos mais nova (interpretada por Erika Henningsen, de Girls 5Eva). Ginny é acrescentada às “viagens de amigos”, mostrando gritantemente as diferenças geracionais e lançando o debate: com a idade, acomodamo-nos ou, simplesmente, deixamos de estar para fretes?