Autor de ‘Conclave’ compara eleição do Papa a ‘reality show’

Com um conclave prestes a acontecer, o filme com o nome do processo que leva à eleição do Papa tem conquistado ainda mais mediatismo, tal como o livro em que se baseou a produção com oito nomeações para os Óscares. Robert Harris, autor do livro, deu uma entrevista à BBC onde elogiou o método usado pela Igreja, mas comparou as dinâmicas da decisão à de um ‘reality show’ internacional que em Portugal foi transmitido pela SIC.

“A dinâmica é a mesma d’Os Traidores [um reality show] onde as pessoas se reúnem para decidir quem é o traidor. De repente, toda a gente se vira contra a mesma pessoa. Não se percebe o motivo, mas acontece. Curiosamente, uma dinâmica semelhante acontece no conclave, o que explica que muitas vezes surjam surpresas”, descreveu.

Para escrever o livro, Harris teve que analisar todos os documentos disponíveis sobre um dos processos mais secretos do mundo. O escritor revelou que teve permissão do Vaticano para aceder a locais normalmente fechados: “Mostraram-me coisas extraordinárias e deixaram-me passear no corredor que leva à varanda onde o Papa eleito se mostra à multidão presente na Praça de São Pedro. Foi um momento de tirar o fôlego”.

O escritor admitiu que pesquisar informação para o livro foi como “tropeçar numa mina de ouro”. “O conclave é uma forma brilhante de encontrar a pessoa certa para conquistar o respeito da Igreja”, acrescentou.

Harris entende que os políticos poderiam aprender com este ritual secreto, em que participam apenas os cardeais com menos de 80 anos — e que são, normalmente, os escolhidos para suceder a Pedro (apóstolo de Jesus e primeiro Papa), apesar de a lei canónica permitir a eleição de qualquer homem batizado.

“Fechar a porta e dizer que não podem sair até terem um resultado ajuda a focar a mente. E se olharmos para trás, os Papas têm sido bem escolhidos”. Para o escritor, a eleição de líderes por uma parte abrangente das pessoas “não tem produzido bons resultados”. Seria melhor, acredita, se um número reduzido de pessoas “que veem os candidatos de perto, diariamente, escolhesse o líder”.

“Eu não acabei de encontrar informação para o livro a pensar que [o conclave] era uma ideia terrível [e que] devia escrever um livro a expor as suas falhas. De certa forma, o livro mostra que o conclave está a funcionar”. Todavia, Harris aponta uma falha à Igreja, na maneira como as mulheres são tratadas, de forma geral, e no Conclave, em particular.

Após a publicação do livro, em 2016, o Vaticano pediu ao escritor uma cópia assinada para o Papa Francisco. “Não sei se o Papa leu. Se o fez, nunca me disse nada”.

Author: Tudonoar

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