“Como na Covid”, bancos atenderam à porta fechada e bombas venderam gasolina “fiado”. Nas lojas, só valeram notas e moedas durante o apagão – Observador

Outros bancos, da Caixa Geral de Depósitos ao Millennium BCP, passando pelo BPI, confirmaram poucas horas após o início do apagão, ao Observador, que o atendimento presencial tinha sido, basicamente, interrompido. “As agências da Caixa Geral de Depósitos estão a atender os clientes à porta fechada, por motivos de segurança”, indicou fonte oficial do banco público, salientando que os serviços de homebanking e a app estavam “a funcionar na normalidade”.

Na mesma linha, o Millennium BCP acrescentou, desde logo, que além dos serviços digitais, “a disponibilização dos demais serviços [como o atendimento presencial] será reposta na medida em que as falhas de energia deixem de se verificar nas localidades nas quais os clientes pretendam utilizá-los”. Por outras palavras, as portas das sucursais dos bancos foram fechadas e só reabertas no dia seguinte – até porque não havia ligação que me permitisse dar informações às pessoas ou avançar em processos de crédito ou outros.

Ao que o Observador apurou, no BPI nunca houve uma instrução para não atender as pessoas, como clientes que iam entregar papéis de crédito habitação, mas tudo foi feito à porta fechada – em moldes semelhantes aos que se viram nos piores momentos da pandemia de Covid-19, indicou uma fonte contactada pelo Observador. Por outro lado, o Novo Banco não respondeu ao pedido de informação feito na segunda-feira, mas o “cliente-mistério” do Observador confirmou nesta quarta-feira, numa agência na linha de Cascais, que o cenário foi semelhante: porta fechada, computadores com acesso apenas ao e-mail interno. Até que também os computadores acabaram por se desligar, por falta de energia.

No A.M. Frutas, uma frutaria próxima do Parque dos Poetas, em Oeiras, a “única coisa eletrónica que trabalhou – e muito – foi a calculadora, a pilhas“, que serviu para fazer a conta das compras feitas pelos muitos clientes que ali se dirigiram para comprar alimentos – não só fruta mas também bolachas, garrafões de água e vários outros produtos. “Foi o caos“, recorda um funcionário, lembrando a enorme afluência de clientes ao longo da tarde e confirmando que todos os pagamentos foram feitos em dinheiro vivo, já que “as máquinas [TPA] deixaram logo de funcionar“.

Pela mesma altura, na farmácia que fica na estação de serviço da A5, no sentido Lisboa-Cascais, não foi a calculadora que salvou o dia mas, sim, um documento Excel que continha os preços atualizados dos milhares de medicamentos que ali se vendem. “As pessoas que aqui vieram naquela tarde, naturalmente, não vieram para comprar a medicação do mês – vieram com situações agudas, em que precisavam mesmo dos remédios com urgência”, diz ao Observador Catarina Oliveira, funcionária desta farmácia.

“Muitas farmácias fecharam a porta aos clientes, sob o pretexto de usarem o robô que vai buscar os medicamentos – e que sem luz não funciona. Nós também usamos um robô mas fomos, mesmo assim, capazes de localizar os medicamentos necessários para os clientes”, diz a farmacêutica, acrescentando que “o problema foi que os medicamentos [sujeitos a receita médica] deixaram, no início de 2024, de ter o preço impresso na embalagem e, por isso, o que nos valeu foi uma folha de Excel que eu tinha no meu computador portátil, cuja bateria costumo carregar todos os dias logo de manhã”.

Nos casos dos medicamentos sujeitos a receita médica, foi feita “venda suspensa”, explica Catarina Oliveira, um método em que o medicamento é dispensado ao doente mas este assume a responsabilidade de levar a receita à farmácia, assim que possível. O método habitual de validação das prescrições é o SMS no telemóvel, mas na impossibilidade de usar esse método alguns clientes traziam consigo receitas em papel, acrescenta a farmacêutica.

E como é que, depois, os clientes pagaram os medicamentos? A farmacêutica recorda que o terminal de pagamento deixou imediatamente de funcionar, logo que falhou a luz, pelo que só foi possível fazer vendas a dinheiro: “houve três clientes que não tinham dinheiro, só cartão, mas foram a casa buscar dinheiro e voltaram”.

Author: Tudonoar

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