Bem-vindo à redação do Observador, um sítio mágico, povoado por pessoas especiais, que têm o super-poder de se tornarem ainda mais excepcionais de um momento para o outro — quando acontecem coisas. Se surgem notícias que param o país e o mundo, os Observadores funcionam ao contrário: mobilizam-se com uma alma impressionante para contar tudo sobre o que está a acontecer, no site, na rádio, em vídeo e nas redes sociais.
No momento em que a luz se apagou, quem subisse a rampa da antiga oficina que agora acolhe o open space onde funciona a redação veria na sala dos sofás, à esquerda, a reunião de editores. Todas as manhãs, pelas 10h30, o Miguel Pinheiro, nosso diretor-executivo do Observador e da Rádio Observador, ouve os responsáveis pelas várias secções, umas 15 pessoas em dias de casa cheia, para um ponto de situação de possíveis manchetes, lançamento de novos trabalhos, afinação de ângulos, num misto de brainstorming e planificação, com pragmatismo e a dose certa de graça.
No momento em que se apagou a luz, ainda não sabíamos que quase tudo o que foi discutido até aí, no dia que se esperava que fosse marcado pelo duelo entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, tinha acabado de ir para o lixo.
Quando a sala ficou às escuras, ninguém ligou muito, mas o nosso coordenador técnico, Nuno Serra Fernandes, e o nosso sonoplasta Bernardo Almeida correram para o quadro de eletricidade e perceberam logo que não havia nada a fazer naquele momento. Rapidamente começaram a chegar mensagens de que também tinha faltado a luz noutros pontos da cidade, depois noutros concelhos à volta, noutros distritos e logo a seguir em Espanha. Mudou tudo em poucos minutos.
A emissão da Rádio Observador manteve-se no ar, e os outros estúdios e a régie continuaram com energia, graças a um gerador de 15 mil euros instalado na garagem do edifício. Foi assim que, em pleno Contra Corrente com o José Manuel Fernandes, a Helena Matos, a Maria João Simões e a Diana Soller em estúdio, a Carla Jorge de Carvalho pôde dar a primeira notícia do apagão.
Arrancámos logo às 12h para uma emissão especial que manteve o nosso editor Miguel Cordeiro ao longo de nove horas praticamente seguidas em estúdio, com largas horas em antena também do Vasco Maldonado Correia, da Filipa Duarte, da Diana Rosa, do Miguel Viterbo Dias, da Raquel Abecasis, e à noite da Laura Figueiredo, do Nuno Arantes Santos e do André Maia — que não conseguiu ficar de folga num dia destes.
Os primeiros repórteres saíram logo para a rua: a Maria João Brás a relatar o que via no metro (encerrado), num supermercado e num centro comercial; a Maria Rego em Braga e no Porto; o Guilherme Pires na Baixa de Lisboa. E o José Rafael Lopes pôs-se a pé a caminho do aeroporto, mas encontrou tantas histórias extraordinárias no percurso que demorou umas duas horas (em vez de 25 minutos), sempre a tentar entrar em direto e a enviar sons de momentos espantosos: uma idosa que teve uma sessão de fisioterapia numa farmácia às escuras; um restaurante que manteve a porta aberta sem eletricidade por o dono entender que tinha a obrigação de alimentar quem tinha fome; um cavalheiro que se colocou no meio da estrada para que os carros parassem e uma senhora com um carro de bebe conseguisse atravessar. No aeroporto, houve dezenas de pessoas que viram o micro da rádio e o procuraram para perguntar o que se passava e o que deviam fazer. (Também houve muita gente a ir a pé até à porta da redação para tentar obter informações).
Houve uns instantes sombrios, é verdade: as baterias estavam a esgotar-se, as redes móveis e de dados praticamente deixaram de funcionar, deixámos de conseguir pôr telefonemas no ar, uma parte das nossas frequências em fm deixou de emitir e ainda não havia combustível para manter o gerador a funcionar. O Bernardo Almeida e a Patrícia Leal Ferreira saíram para uma ronda rápida pelas gasolineiras de Lisboa, mas não conseguiram abastecer em lado nenhum. O nosso fornecedor habitual de gasóleo disse que não podia vender-nos nada porque todo o combustível tinha sido requisitado pelo governo para os geradores dos hospitais. O gerador chegou a ter apenas 38% da capacidade, o que podia significar apenas mais 5 horas de eletricidade. Os jornalistas da rádio e do site já estavam a revezar-se nos estúdios, para poderem carregar computadores e telemóveis, e começou a pensar-se em racionar energia para durarmos mais tempo no ar. A grande repórter Ana Suspiro, especialista em energia, sentou-se na régie da rádio a tentar contactar as fontes que permitissem verificar as notícias falsas que começaram a surgir.
Mas ninguém se resignou. O Bernardo e a Patrícia foram até Aveiras, 45 km a norte de Lisboa, para conseguirem 140 litros de gasóleo, uma notícia recebida com enorme alívio por todos, pois já permitiria manter o gerador (e a redação) a funcionar durante mais 48 horas. A Rita Garro assegurou comida para toda a equipa. As entrevistas que não podiam ser feitas em direto por telefone foram substituídas por pedidos de áudios aos entrevistados, num trabalho excecional da nossa equipa de produção, com a Beatriz Canato, a Maria Nunes, a Catarina Duarte e a ajuda generosa da Maria Miguel Duarte, que devia ter saído ao meio-dia e também acabou por ficar até à noite.
Lançámos um apelo a todos os colaboradores da rádio que estivessem no exterior e a todos os ouvintes para enviarem áudios a descrever as consequências do apagão. O Bruno Vieira Amaral, que tinha madrugado para fazer as Manhãs 360 em estúdio, enviou logo uma descrição do caos que viu num hipermercado do Barreiro. O Hugo Silva não estava de serviço, mas reparou que o Colombo estava a fechar e prontificou-se a enviar áudios com entrevistas a funcionários. A Diana Rosa estava no dentista, não conseguiu pagar a consulta por o sistema já estar em baixo, e pôs-se a caminho da redação a tentar entrar em direto pelo caminho, sem conseguir, por falta de rede.
O André Maia estava de folga em casa e ficou com um estafeta preso no elevador. Na casa das máquinas do prédio há uma manivela que permite puxar o elevador, mas estava trancada e o vizinho que tem a chave não estava. Ainda conseguiu internet para ir ao YouTube tentar aprender a arrombar uma fechadura com dois clipes, mas acabou por conseguir forçar as portas com a ajuda dos vizinhos e assim libertar o estafeta.
A Nadine Soares ia entrar mais tarde, vinha de autocarro pela ponte Vasco da Gama, e apercebeu-se de que vários idosos alentejanos começaram a receber nos telemóveis mensagens a avisar de consultas canceladas devido à falta de sistema nos hospitais. Quando chegou a Sete Rios, deparou-se com centenas de pessoas a tentar perceber como sair dali, sem metropolitano e sem rede para chamar táxis. Conseguiu chegar a casa depois de uma perigosa viagem de táxi, devido à falta de semáforos e subiu ao sexto andar, pelas escadas, iluminadas em cada piso por velas deixadas pelos vizinhos para evitar quedas.
O João Miguel Santos também estava de folga, mas quando percebeu que o apagão era grave correu para a cozinha, encheu dois jarros de água e colocou um mini painel solar a carregar uma powerbank (que usa habitualmente nas suas voltas grandes de bicicleta para carregar GPS, telemóvel e luzes) e ofereceu-se para fazer reportagem. Primeiro no Barreiro; depois apanhou o barco para o Terreiro do Paço, para entrevistar os passageiros que voltavam a casa por as empresas terem fechado, proprietários de restaurantes que estavam a vender comida fria, uma farmacêutica que alertou que iria haver rutura de stocks e admitiu que não estava a aviar receitas porque não tinha sistema. Almoçou três maçãs que levou precavido de casa. Voltou a apanhar o barco para o Barreiro quando deixou de ter internet para enviar mais material. Mas teve sempre bateria graças ao kit solar.
Na redação, a emissão especial da rádio continuava, ao mesmo tempo que a equipa do site atualizava tudo no liveblog. A meio da tarde, os ouvintes alertaram-nos por email de que já tinham energia em Abrantes, Mação e Torres Novas, uma notícia que foi recebida com aplausos, em tom de festa, como se fosse um prenúncio de que o apagão estava a começar a resolver-se. Depois chegou a Gaia e ao Porto, onde a Maria Rego viu em direto o regresso da iluminação ao Hospital de São João. Ao início da noite, fez-se de novo luz em certas zonas de Lisboa. A Rita Tavares entrou em direto pouco depois de ter visto à janela a festa dos vizinhos, com aplausos numa euforia coletiva.
A Marina Ferreira, depois de um dia inteiro a ajudar na cobertura das consequências do apagão, saiu do Observador ainda com um resto de luz do dia para caminhar até casa, surpreendeu-se com a multidão sentada no relvado da Alameda, e em plena Av. Almirante Reis conseguiu filmar o momento em que as luzes se reacenderam — tentou logo enviar o vídeo para a redação, mas ainda não havia rede móvel nessa altura.
A Nadine Soares, depois de fazer reportagem com os clientes nas filas de um hipermercado com as prateleiras vazias em Telheiras, e de se acotovelar entre centenas de passageiros que tentavam subir para os autocarros no centro da cidade, atravessava as ruas da Graça numa viatura da Carris quando começou a ver pela janela Lisboa a recuperar vida: os semáforos de novo a funcionar, os postes a iluminarem as ruas e os gritos de quem festejava o regresso da eletricidade.
Só à noite, quando a internet e as redes móveis começaram a ressuscitar, é que uma parte da equipa pôde finalmente comunicar com as respetivas famílias, para se certificarem de que estavam bem. Também só ao fim da noite se conseguiu restabelecer a comunicação entre os vários elementos da equipa das manhãs, para se começar a preparar o alinhamento da manhã seguinte, com todas as rubricas dedicadas ao apagão e entrevistas aos principais protagonistas da crise, como o presidente da REN, o ministro António Leitão Amaro, e os responsáveis por supermercados, escolas e serviços de saúde.
A escuta da emissão online mais do que duplicou em certos momentos do dia. O tráfego no site disparou e houve mais de 200 mil utilizadores a procurar o Observador nas duas horas que se seguiram ao apagão. A emissão especial seguiu ininterrupta até às 22h, só terminou mesmo depois de o editor de política, Rui Pedro Antunes, comentar a declaração do primeiro-ministro ao país — e quando já quase toda a gente tinha eletricidade. Mas no Observador ainda era preciso usar a lanterna do telemóvel para ir à casa de banho e ainda não havia máquinas de café a funcionar.
Na redação, em Alvalade, a energia voltou apenas às 23h08, o que foi assinalado em pleno noticiário. Mas a luz nunca se apaga numa redação assim. Graças a uma equipa extraordinária — que tem também o privilégio de trabalhar para ouvintes, leitores e assinantes extraordinários. Muitos deram-se ao trabalho de nos escrever emails como este, que nos enchem de orgulho: “É com enorme apreço que saúdo a vossa equipa pela emissão extraordinária em FM que me acompanhou ao longo de todo o dia. A vossa dedicação em manter a população informada, mesmo perante adversidades técnicas e logísticas, é um verdadeiro serviço público e um exemplo de compromisso com a comunidade. Numa altura em que a energia falhou, é reconfortante saber que a vossa voz continuava a chegar às pessoas, levando informação, orientação e tranquilidade. Os meus parabéns por esta missão cumprida com profissionalismo e espírito solidário, mesmo às escuras, a comunicação acende luz.”
Pedro Delgado Alves assumiu numa reunião na AR e ao Observador que acedeu ao processo do primeiro-ministro e que partilhou informação com Fabian Figueiredo, do BE. PSD exige investigação à fuga.
Pedro Delgado Alves e Hugo Carneiro expõem visões antagónicas sobre o sigilo da declaração de Luís Montenegro. Lei prevê prazos para disponibilização e penalista aponta eventual violação de segredo.
Em entrevista na Vichyssoise, programa do Observador, vice da bancada do PSD diz que caso criminal ainda pode ser evitado se responsável por divulgar clientes da Spinumviva vier a público.
Os temas mudaram — há um ano não havia Spinumviva nem apagão — mas Montenegro e Pedro Nuno mudaram de papéis. O primeiro é agora o incumbente, mas continua a colar imagem pouca serena ao adversário.
Apagão na energia, economia, saúde, habitação e pensões. Os argumentos de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro nos cinco temas programáticos que dominaram o debate.
Luís Montenegro “à prova de bala” e Pedro Nuno Santos “a trabalhar com humildade” mostraram tudo o que os separa na saúde, nas pensões, na habitação, no apagão. E o que os irrita: Spinumviva.
Em entrevista, Rui Tavares diz que a esquerda deve refletir sobre o porquê de ser difícil de recuperar os “800 mil votos perdidos” para a direita e lamenta posições assumidas por PS, Bloco e PCP.
Em entrevista ao Observador, Paulo Raimundo admite que PCP tem de voltar a recuperar confiança eleitoral que perdeu e recusa entrar em especulações sobre cenários pós-eleitorais e alianças com PS.
Os jardins da residência oficial do primeiro-ministro não encheram no Dia do Trabalhador em que se festejou também a Revolução. Fãs de Tony Carreira agradeceram e Montenegro cantou “Sonhos de Menino”.
Situação de uma maternidade preocupou muito e o regresso da eletricidade antes do anoitecer ajudou a evitar escalar de tensão. Fake news “amedontraram” e SIRESP falhou definitivamente no teste.
Milhares de pessoas fazem em casa o mesmo tratamento que a idosa do Cacém. Aparelhos têm autonomia estimada de oito horas. Técnicos de emergência consideram que tempo de espera foi excessivo.
As redes móveis falharam depois do apagão de energia. São comunicações eletrónicas e, como tal, dificilmente aguentariam mais horas sem entrarem em apagão completo.
Para poupar energia, aeroporto da capital adaptou-se e parou o sistema de entrega de bagagem para assegurar que tinha energia para os aviões. No dia “mais desafiante”, foram afetadas 70 mil pessoas.
Sem luz, “a rádio foi a única que sobreviveu”. Diretores da Antena 1, Observador, Renascença e TSF recordam o dia em que a rádio foi protagonista e lamentam oportunidade perdida da Proteção Civil.
A torre de Tóquio desligada, sequestros de funcionários das empresas energéticas e um Papa que precisou de um gerador para nomear cardeais: cinco apagões gerais deste século.
Apagão energético de segunda-feira levou bancos a atenderem clientes só à porta fechada, “como na Covid”. Nas lojas, restaurantes e bombas, sem se poder pagar com cartões, vendeu-se “fiado”.
Ministra da Saúde esteve durante horas num gabinete de crise. Fazer chegar combustível aos hospitais para abastecer os geradores foi maior desafio. Gestores hospitalares pedem plano de ação uniforme.
No atropelamento de um bebé, o INEM não conseguiu acionar os meios de emergência destinados aos casos mais graves. O SIRESP voltou a falhar. “Isto não pode acontecer”, dizem técnicos.
Ao volante da carrinha da empresa de elevadores, Alexandre viu uma mulher esbracejar para lhe pedir ajuda a retirar a amiga presa há três horas. Liga dos Bombeiros diz que ninguém ficou sem resposta.
A luz foi abaixo às 11h30 da manhã. Depois, os semáforos. E as comunicações. E os multibancos. Primeiro-ministro só falou depois de almoço. Neste dia, a única coisa que circulou foi a desinformação.
O dia em que a luz foi abaixo parece ter-se vivido tranquilamente em todos os ciclos de ensino. Mas há quem aponte o dedo ao Governo por deixar o encerramento das escolas ao critério dos diretores.
No dia do apagão, as pessoas procuraram as esquadras para pedir conselhos. A maior preocupação foi com o trânsito e com áreas críticas como hipermercados, ruas movimentadas e postos de combustível.
A falta de energia gerou a confusão na rua. Uns lutavam para voltar a casa (de transporte ou a pé), outros queriam comprar alimentos e bens para resistirem às horas que que se avizinhavam.
Um “choque de frequência” elétrica fez a rede colapsar, arrastando o sistema espanhol e português em poucos minutos. O apagão, as possíveis causas, as respostas e as consequências em 10 respostas.
Sánchez critica privados e exige “responsabilidades”, não descartando ciberataque. Falha na energia solar pode ter causado apagão e direita defende aposta no nuclear. PP ataca gestão do governo.
Dois meses, uma discussão e um encontro no Vaticano depois, o acordo dos minerais foi assinado. Kiev soma “vitórias” com os termos finais, Washington destaca promessa cumprida de caminhar para a paz.
Antes de ser bispo de Leiria-Fátima era bastante cético das aparições, algo que mudou depois de confessar o pai. O antigo sindicalista e aluno de Bento XVI foi elevado a cardeal em 2018.
Só na primeira manhã depois do funeral, mais de 30 mil pessoas visitaram o túmulo do Papa Francisco. Quem chegou cedo evitou as grandes filas que se formaram — e que levaram alguns a desistir.
Marcava livres como poucos e chegou a levantar uma Champions, mas nunca foi um iluminado ou o mais criativo. Ainda assim, tornou-se famoso como ninguém. David Beckham faz 50 anos esta sexta-feira.
Para D. António Marto, Francisco foi “um grande dom de Deus”. D. Manuel Clemente recorda a “estima” e D. Américo Aguiar, uma história passada durante as Jornadas Mundiais da Juventude.
Graham não conheceu a mãe por 45 anos e, cinco anos após o emotivo encontro, diz ao Observador que nunca mais a quer ver. Henrique Sá Pessoa acompanhou tudo: da felicidade à desgraça.
A “Surpresa de Outubro” é um acontecimento inesperado que tem o potencial explosivo para mudar à última hora o voto de um número significativo de eleitores. Pedro Nuno Santos aposta tudo nisso.
Por detrás de um apagão como o de segunda-feira está sempre outro apagão: o do debate, isto é, o da liberdade. Os regimes ocidentais têm de recuperar a capacidade de discutir tudo livremente.
Não tenho um medidor de mudanças, mas este tempo não foi em vão. Não sei se foi uma mudança. Mas aconteceu algo para aplausos se ouvirem na Praça de S. Pedro quando se denuncia a “cultura do descarte”
Ventura sabe que um dia vai ter que dar alguma coisinha aos seus 49 oficiantes ateus “desta” democracia, mas não sabe como. Mesmo que vá subindo a escada dos votos.
Portugal é um caso agudo de “rally around the flag”: na presença de uma crise profunda, os cidadãos juntam-se em torno do líder, sem fazer quaisquer questões e apoiando incondicionalmente o país.