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Foram terras de Vila Real que deram a maior percentagem de votos (e nos dois casos, vitória) quer à AD quer ao PS. No primeiro caso uma união de freguesias de Boticas, no segundo uma localidade de Montalegre.
Tanto a AD como o PS venceram nestas freguesias, mas há casos em que a maior percentagem de votação obtida por um partido não é sinal de que tenha sido o mais votado nessa freguesia. É esse o caso, por exemplo, da Iniciativa Liberal na União das freguesias de Nogueiró e Tenões, em Braga, o ponto do país onde o partido de Rui Rocha teve a maior percentagem de votos — no entanto, olhando para o panorama total da freguesia, a IL foi a terceira força mais votada.
O Livre teve os seus votos quase todos em Lisboa (com uma excepção no Porto), a CDU conseguiu a melhor performance numa freguesia de Pias, num distrito onde o Chega venceu. O partido de André Ventura teve a melhor percentagem numa freguesia de Portalegre e o Bloco numa localidade dos Açores, por exemplo. Já o PAN teve uma subida assinalável em freguesia de Macedo de Cavaleiros e o JPP na localidade onde nasceu, na Madeira.
Quais foram as freguesias que votaram mais (em termos percentuais) em cada um dos nove partidos com assento parlamentar? E como é a que está no cimo das primeiras dez? E qual foi aquela onde as três principais formações partidárias tiveram menos percentagem de votos (os partidos mais pequenos não conseguiram votos em muitas freguesias, pelo que não é possível nomear apenas uma). Seguem-se as localidades em que cada partido foi campeão:
A maior votação conquistada pela AD ao nível das freguesias registou-se no norte do país, em Codessoso, Curros e Fiães do Tâmega, em Boticas, no distrito de Vila Real, com 80,86% dos votos. A percentagem elevada traduz-se, no entanto, em apenas 169 votos, mais 14 votos do que nas legislativas do ano passado.
Esta união de freguesias tem 257 habitantes, segundo os dados dos Censos de 2021, em que 114 são homens e 143 mulheres. Nesse ano, viviam aqui apenas quatro estrangeiros e mais de um terço da população residente (36%) tinha mais de 65 anos. Ainda segundo o INE (Instituto Nacional de Estatísticas), a taxa de analfabetismo era de 9,88%.
Na outra ponta do país, está a freguesia onde a AD conquistou menor votação (7,42%): Santa Bárbara de Padrões, no concelho de Castro Verde, em Beja, distrito conquistado pelo Chega.
Também o Partido Socialista venceu e teve a maior percentagem de votos no distrito de Vila Real, desta feita em Montalegre e na freguesia de Negrões, que teve uma elevada abstenção (41,94%). Dos 217 eleitores inscritos para estas eleições, foram registados 91 votos: 56 deles no PS, o que se traduz numa percentagem de 61,54%.
Foi uma queda ligeira para o PS, pelo menos nesta freguesia: em 2024, o partido liderado por Pedro Nuno Santos arrecadou 59 votos (62,11%), menos três do que este ano.
Pelos Censos de 2021, Negrões tinha 132 residentes, 64 homens e 68 mulheres. Quase 41% tinha 65 ou mais anos. Da população ativa, 55 pessoas trabalhavam. Apenas uma pessoa era estrangeira. E a taxa de analfabetismo, segundo o INE, era de 14,17%.
O PS registou a menor percentagem de votos (3,66%), também no norte, em Boalhosa, no concelho de Ponte de Lima.
Chega tem maior percentagem numa freguesia envelhecida
O partido liderado por André Ventura teve a maior percentagem de votação na freguesia de São Vicente e Ventosa, em Portalegre, distrito que conquistou ao PS por 95 votos. Venceu na freguesia com 53,3% e, feitas as contas, este ponto do concelho de Elvas garantiu ao Chega 218 votos, uma ligeira subida em relação aos 209 votos registados no ano passado. Dos 645 inscritos, foram registados 409 votos nos vários partidos disponíveis — mais de metade votou no Chega.
Apesar de nas legislativas de 2024 os socialistas terem vencido neste distrito, o Chega já tinha sido o primeiro nesta freguesia de 723 habitantes (dados dos Censos de 2021), praticamente equilibrada entre 346 homens e 386 mulheres. A população empregada era então de 279 pessoas.
São Vicente e Ventosa tem uma população envelhecida — quase 52% tem 65 ou mais anos, ainda segundo os mesmos dados de 2021. A freguesia tinha então 20 estrangeiros, que representavam cerca de 2,7% da população total.
Em sentido contrário, a freguesia que menos votou no Chega foi Vilar Seco, no Vimioso, Bragança (o único círculo eleitoral em que o partido de André Ventura não conseguiu eleger algum deputado), com 2,70%.
IL registou a maior percentagem em freguesia relativamente jovem
A Iniciativa Liberal não venceu a União das freguesias de Nogueiró e Tenões, em Braga, mas foi lá que registou a maior percentagem de votos a nível nacional: 13,85%. O partido cresceu neste ponto do país — em 2024, conquistou 436 votos (11,54%), este ano salta para os 511 votos. Estavam inscritos 4.936 pessoas e foram registados 3.693 votos.
Em 2021, Nogueiró e Tenões tinha 5.946 residentes, com mais mulheres (3.314) do que homens 2.632. É uma freguesia relativamente jovem, em que 16,5% da população tinha 65 anos ou mais.
Segundo os dados disponíveis, tinha 293 residentes estrangeiros, com uma representação expressiva de cidadãos brasileiros (172), europeus (75) e africanos (19).
O Livre registou a maior votação na freguesia de Arroios, em Lisboa, arrecadando uma percentagem de 14,46% dos votos. O partido de Rui Tavares aumentou o número de votos em relação ao ano passado: na altura, conquistou 1.961 votos (11,83%) e este ano salta para 2.281 votos. Arroios tinha 26.391 eleitores inscritos e foram registados 15.779 votantes.
Pelos dados de 2021 dos Censos, esta freguesia de Lisboa tinha uma população residente de 33.302 pessoas, dividida entre 16.372 homens e 16.930 mulheres. A população empregada era de 16.499 pessoas, enquanto 20% da população já estava na casa dos 65 ou mais anos. A taxa de analfabetismo era de 1,9%.
É uma das freguesias com maior representação de estrangeiros: segundo os Censos de 2021, eram 7.770, com destaque para 2.087 estrangeiros de várias nacionalidades europeias, 2.982 residentes com origem no Indostão, 1.870 brasileiros e 576 residentes com origem em países africanos.
No top 10 das freguesias onde o Livre teve maior percentagem de votos, apenas uma não é em Lisboa: ficou no oitavo lugar e é no concelho do Porto.
A CDU viu vários concelhos tradicionalmente associados à coligação passar a ser território do Chega. Mas também conseguiu manter algumas freguesias, como Pias, em Serpa, no distrito de Beja, onde os comunistas foram o partido mais votado e registaram também a maior percentagem (39,92%).
Estavam inscritos 2.113 eleitores e foram registados 1.245 votantes — deste total, 497 votos foram a favor da CDU. Ainda assim, o partido teve um resultado abaixo do ano passado em votos (539), mas acima em percentagem (em 2024 teve 39,4% dos votos).
Pias tem uma população de 2.542 pessoas, composta por 1.319 homens e 1.223 mulheres, segundo os Censos de 2021. Deste total, 27,1% da população tinha 65 ou mais anos; já 981 tinham emprego. A taxa de analfabetismo era de 10,46%.
Pias tinha 177 residentes estrangeiros, também segundo dados da última recolha estatística, com destaque para 58 cidadãos romenos.
No top 10 de freguesias onde a CDU arrecadou maior percentagem de votos nota-se a presença de vários pontos do Alentejo, apesar da vitória do Chega na região.
O Bloco de Esquerda conquistou a maior percentagem de votos a nível nacional em São Pedro, no concelho de Vila do Porto, em Santa Maria, nos Açores — 9,96% — onde foi o terceiro partido mais votado.
O BE conseguiu aumentar o número de votos nesta freguesia em relação ao ano passado, ainda que, em número de votos, tenha conseguido apenas mais um voto do que em 2024, passando de 27 para 28.
Os dados dos Censos 2021 revelam que esta freguesia tinha 812 residentes, entre 395 homens e 417 mulheres. Entre a população ativa, 378 estavam empregados; já a taxa de analfabetismo era de 2,51%. São Pedro tinha 12,9% da população com 65 ou mais anos.
A maior percentagem de votos arrecadada pelo PAN nestas legislativas foi na união de freguesias de Talhinhas e Bagueixe, em Macedo de Cavaleiros, com 7,45%, que representam 14 votos. É uma subida face às legislativas anteriores, quando o partido de Inês Sousa Real conquistou apenas um voto em 2024 nesta freguesia. Em 2025, estavam 402 eleitores inscritos, mas foram registados 188 votos.
É uma freguesia com uma população de 262 pessoas, segundo dados dos Censos de 2021, 134 homens e 128 mulheres. Cerca de 13% tinha 65 ou mais anos; 64 em idade ativa tinham emprego. Segundo os últimos dados disponíveis, esta freguesia tinha 13 residentes estrangeiros.
O Juntos pelo Povo (JPP) estreia-se na Assembleia da República, elegendo um deputado: Filipe Sousa. Sem surpresas, a freguesia onde o partido obteve maior percentagem de votos é Gaula, em Santa Cruz, onde começou a caminhada do partido regional. Além disso, foi também ali o partido mais votado com 38,58% dos votos registados.
O JPP conseguiu aumentar a votação: se em 2024 recebeu 920 votos (37,86%), este ano elevou para 38,58%, mesmo tendo recebido menos votos (868).
A população de Gaula era, em 2021, de 3.925 pessoas, 1.846 homens e 2.079 mulheres. A freguesia tinha 18,4% da população com mais de 65 anos. A população empregada era de 1.650 pessoas.
Havia 93 estrangeiros residentes em Gaula, com destaque para 25 venezuelanos.
