Estratégia para contornar tarifas ou ilusão? Promessas de luxo a preços baixos levam norte-americanos à app chinesa DHgate – Observador

O especialista chinês em e-commerce Arnold Ma defende que a DHgate, plataforma que é usualmente descrita pela imprensa internacional como um marketplace especializado na venda de réplicas, “não é tão boa como dizem nos vídeos do TikTok”. Ainda assim, apesar de existirem “muitos golpes” e “muitos casos em que as pessoas não recebem o produto pelo qual pagaram”, é possível comprar “produtos de muito boa qualidade que são 80% semelhantes” aos de marcas de luxo, “feitos nas mesmas fábricas, por muito menos [dinheiro]”, afirma, em declarações à Wired, acrescentando que a empresa chinesa é apenas uma app, pelo que “não garante a qualidade ou autenticidade de nenhum dos produtos”.

Os vídeos partilhados no TikTok alegam ainda que comprar na DHgate é sinónimo de contornar as tarifas de 145% que foram impostas por Donald Trump aos produtos chineses. Contudo, ao contrário destas alegações, não há forma de evitar as taxas. “Tudo o que vem da China, quer seja comprado diretamente ou através de uma empresa, está sujeito a tarifas”, esclarece Sucharita Kodali, analista da empresa Forrester, ao The Washington Post.

Apesar destas alegações sem adesão à realidade estarem na base dos vídeos do TikTok, a DHgate captou a atenção dos consumidores norte-americanos. Há uma semanas, nem sequer constava no top 100 de aplicações mais populares no país. Na semana passada, ascendeu ao número dois das apps gratuitas mais descarregadas na App Store nos EUA, apenas atrás do ChatGPT. Segundo dados da empresa Sensor Tower, que foram partilhados com o Observador, a média de downloads da aplicação nos Estados Unidos subiu mais de 500% entre 9 e 15 de abril, em comparação com os 30 dias anteriores (de 10 de março a 8 de abril).

Os números estão em linha com aqueles que foram também avançados ao Observador por uma outra empresa, a App Figures, que estima que os downloads da DHgate nos EUA tenham começado a aumentar a 12 de abril. Ao comparar o total dos downloads feitos entre 12 e 14 de abril com os realizados em três dias da semana anterior, a firma conclui que existiu uma subida de 577%. Mas a curiosidade não é exclusiva dos EUA e chegou também a Portugal, com a aplicação a ter sido descarregada mais 1.310 vezes em 13 dias (de 90 downloads a 1 de abril para 1.400 no dia 14).

“Estamos gratos, mas continuamos a ser humildes em relação a este fenomenal aumento de tráfego. Como empresa com raízes profundas no comércio eletrónico transfronteiriço, o nosso foco continua a ser melhorar as experiências de comércio digital para os consumidores globais” e para as pequenas e médias empresas. Foi assim que a DHgate reagiu, através de um porta-voz em declarações ao South China Morning Post, à recente popularidade nos Estados Unidos, que contrasta com a da Shein e da Temu.

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Desde que Donald Trump anunciou que ia impor tarifas à China e acabar com a isenção para pequenas encomendas (abaixo dos 800 dólares), uma medida que afeta diretamente Shein e Temu, a popularidade destas duas plataformas tem vindo a cair. Segundo a BBC, na semana passada e após dois anos no top cinco, a Temu passou a ser a 75.º aplicação gratuita nos downloads na App Store nos EUA. Já a Shein, que em março ocupava o 15.º lugar, estava agora em 58.º.

As duas plataformas chinesas de comércio online, que são rivais e que já terão começado a diminuir os gastos com publicidade nos EUA, emitiram comunicados parecidos para avisar os consumidores norte-americanos de que os produtos vão ficar mais caros a partir de 25 de abril. A decisão de fazer “ajustes de preços” é justificada com as “recentes mudanças nas regras e tarifas comerciais globais”.

Author: Tudonoar

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