
A polícia da Coreia do Sul informou esta terça-feira que solicitou à justiça a emissão de um mandado de detenção para um jornalista que publicou uma notícia falsa sobre a imposição da lei marcial em dezembro.
Em janeiro, um repórter do meio de comunicação local Sky eDaily afirmou, num artigo alegadamente “exclusivo”, que as tropas sul-coreanas tinham detido 99 espiões chineses em 3 de dezembro, dia em que o ex-presidente deposto Yoon Suk-yeol impôs a lei marcial. Citando alegadas fontes anónimas da inteligência militar dos Estados Unidos, o jornalista escreveu que os espiões tinham sido colocados sob custódia militar norte-americana em Okinawa, no Japão, depois de terem sido detidos numa instalação da comissão eleitoral sul-coreana.
A Polícia Metropolitana de Seul disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que tinha emitido um mandado de detenção para o jornalista por “obstrução de deveres oficiais” da comissão eleitoral. O jornalista, cujo nome não foi divulgado pela polícia, é acusado de publicar um “artigo falso, que perturbou” as operações da comissão, acrescentou um porta-voz da polícia. O porta-voz acrescentou que a resposta do tribunal sobre o pedido de emissão do mandado de detenção deverá ser conhecida esta quarta-feira.
O serviço de verificação de factos da AFP já tinha identificado o artigo do Sky eDaily, cujo conteúdo foi refutado tanto pela comissão eleitoral sul-coreana como pelas forças armadas dos Estados Unidos na Coreia do Sul.
Yoon Suk-yeol surpreendeu a Coreia do Sul na noite de 3 para 4 de dezembro ao declarar inesperadamente a lei marcial e enviar o exército para assumir o controlo do Parlamento. No entanto, os deputados sul-coreanos conseguiram reunir-se a tempo de cancelar a medida. O antigo líder, que foi deposto no início de abril, justificou as ações citando ameaças de “forças comunistas norte-coreanas” e a sua obrigação de “eliminar elementos hostis ao Estado”.
As ações de Yoon conquistaram o apoio de figuras religiosas extremistas e de YouTubers da direita radical e alimentaram uma onda de desinformação e teorias da conspiração online, com conteúdo não verificado que incluía alegações não comprovadas de fraude eleitoral e espionagem chinesa. Quatro apoiantes envolvidos no ataque de janeiro a um tribunal que tinha aprovado formalmente a detenção de Yoon foram condenados a penas de prisão na semana passada.