“Quis imitar aquilo que Mourinho fez no FC Porto”: Ruben Amorim recorda chegada ao Sporting em 2020 antes da final da Liga Europa

Mais um jogo da Premier, mais uma derrota frente ao Chelsea em Stamford Bridge, mais um momento de reflexão de quem pode fazer história no clube mas está a escrever outro tipo de história pelo clube. A missão não era propriamente fácil quando Ruben Amorim chegou ao Manchester United em novembro mas nem a chegada à final da Liga Europa parece servir para apagar aquilo que tem sido o percurso da equipa ao longo do Campeonato, com um preocupante 16.º lugar com um sem número de registos negativos antes de jogar a possibilidade de recolocar o clube a ganhar títulos europeus. Mais uma vez, o técnico português falou nesse misto de sentimentos, quase “relativizando” aquele que pode ser o impacto de um triunfo em Bilbau.

“É um momento difícil. Não é suficiente ganhar a Liga Europa. Não é suficiente para todo o apoio que eles [os adeptos] nos deram esta época. Com os nossos adeptos, não é uma surpresa para mim, eles vão nadar se for preciso, mesmo sem bilhete! Eu já sei. Um grande obrigado por tudo o que fizeram durante a época. Vamos fazer o nosso melhor para lhes dar algo”, comentou na antecâmara da viagem para Espanha, onde defrontará o Tottenham na final da Liga Europa. “Temos perfeita consciência da época que estamos a fazer na Premier. Já falámos sobre isso, nada vai mudar esta época. A melhor forma de reagir a isto é preparar a final e tentar conquistar um troféu esta época e preparar-nos para a próxima. Sabemos que estamos numa temporada muito complicada mas não podemos fazer nada, isso está no passado e temos de olhar para a frente. O presente é preparar esta final e, depois, a próxima época”, apontara depois da derrota em Londres.

Há dois meses e meio sem ganhar no Campeonato, levando um total de 18 derrotas em 37 partidas naquela que é a principal competição dos red devils, nem mesmo os sinais de alerta deixados por Amorim depois do desaire em Old Trafford com o West Ham serviram para “despertar” a equipa que, desde meio de março, e em 12 encontros, ganhou apenas três e a contar para a Liga Europa, entre a reviravolta fantástica com o Lyon no prolongamento dos quartos e as duas partidas com o Athl. Bilbao nas meias-finais. “Estamos a preparar-nos para o jogo. Acho que dá para sentir isso em Carrington, estamos muito animados com a final. É muito importante, enorme para nós e queremos dar isso aos nossos adeptos. Estou muito entusiasmado mas, ao mesmo tempo, sei da minha responsabilidade como treinador do United. Tenho sempre aquele sentimento de frustração pela época que passou, por isso quero muito ajudar a equipa a vencer a final. Temos de dar algo ao clube, aos adeptos, aos funcionários, a toda a gente”, assumiu o português.

Antes, a antiga equipa, o Sporting, conseguiu finalmente chegar ao bicampeonato 71 anos depois e o técnico não foi esquecido na festa. “Significa um crescimento brutal na nossa estrutura, naquilo que a Direção faz. Lutamos por todos os títulos e é muito importante este crescimento. Agora é continuar a ganhar títulos. Mensagem para Ruben Amorim? Grande abraço para si, mister. Você é campeão. Gostava que estivesse aqui, mas agora temos outro”, atirou Eduardo Quaresma ainda em Alvalade. “Juras de amor eterno ao Sporting? Como o Amorim, não é? O Amorim também disse coisas e depois arrependeu-se…”, comentou Pedro Gonçalves, neste caso num registo mais descontraído quando era entrevista por Guilherme Geirinhas.

Também Amorim não esqueceu a passagem de quatro anos e meio por Alvalade, abordando aquilo que quis fazer desde que chegou ao Sporting à luz de outro técnico português. “Fui influenciado por muitas pessoas. Sempre vi muito futebol e foi aí que aprendi mais. A influência de Jorge Jesus, que por sua vez também foi influenciado pelos neerlandeses… Costumava ver muito futebol italiano quando era miúdo. Jogar com três defesas faz parte da filosofia de Cruyff. Depois, juntamente com a forma italiana de defender, com uma primeira linha de defesa e uma segunda linha… É uma combinação de diferentes tipos de futebol”, começou por referir, numa abordagem onde explicava o habitual 3x4x3 que dificilmente “desmancha” nos clubes.

“Muitas das coisas que fiz no Sporting, como contratar jogadores como o Nuno Santos, o Pote, todos esses jogadores, estava a imitar o que o Mourinho fez no FC Porto. Sou o tipo de pessoa que gosta de criar laços. Acho que se consegue lidar melhor com os grupos desta forma do que mantendo a distância. Essa é também uma forma pela qual Mourinho me influenciou. Ele trouxe isso para o futebol – um vínculo. Os truques que criou para desafiar aqueles que precisava de desafiar, para ajudar aqueles que precisava de ajudar. Acho que todos os treinadores aprenderam muito com ele”, destacou Ruben Amorim a propósito do português que está hoje no Fenerbahçe e que também passou pelo Manchester United com três títulos.

“Tento encontrar uma ligação com os jogadores. Não se tem nada se não houver uma ligação entre os seres humanos. Mas sei como manter as coisas separadas. Posso ser uma pessoa diferente fora do campo e ajudá-los. Serei sempre um amigo, por assim dizer, mas quando chega a altura de trabalhar, sou completamente diferente e as coisas não me impedem de tomar decisões difíceis porque consigo ser honesto. Posso ser amigo deles, mas se for necessário, tomo decisões difíceis. Bruno Fernandes? É um exemplo para os outros porque está sempre pronto para treinar, treina ao mais alto nível. Vemos a forma como fala com os companheiros de equipa, às vezes é duro com eles, mas quando o ouço, é uma forma de os ajudar”, apontou.

Por fim, e na mesma entrevista à UEFA antes da final da Liga Europa, Ruben Amorim falou também da decisão que perdeu como jogador frente ao Sevilha quando era jogador do Benfica. “Foi, obviamente, um momento muito especial. Recordo os nossos preparativos durante a semana, com todas as entrevistas. Quando tento recordar momentos específicos do jogo, não consigo. O que sei é que não tirei nada disso, nada. Não posso nunca dizer que fui finalista. Não quero dizer isso! Estes jogos precisam de ser ganhos e, se não ganhar, não restará nada além de tristeza”, concluiu o antigo treinador verde e branco.

Author: Tudonoar

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